"A filosofia budista não nega a existência de um ser, ou de um indivíduo, que é um fluxo ininterrupto ou fenômeno de continuidade mental e física condicionado pelo carma. Não há substância invariável; não há nada por trás da corrente que possa ser considerado um ser permanente, uma individualidade; nada que possa ser realmente chamado EU. Porém, quando os cinco agregados (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência), que são interdependentes, trabalham associados psicofisicamente, formamos a idéia de um EU. É uma noção falsa, uma formação mental; é uma ilusão."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 156
"Há duas idéias psicologicamente enraizadas no indivíduo: a autoproteção e a autopreservação. Como autoproteção, o homem criou a imagem de um deus pessoal do qual ele depende como uma criança de seus pais, para sua própria proteção, salvaguarda e segurança. Quanto à autopreservação, o homem concebeu a idéia de uma alma imortal, permanente, que viverá eternamente. Perdido entre o temor e o desejo, o homem necessita dessas duas coisas para se assegurar e confortar.

A vida é um momento entre o passado e o futuro; é apenas um fenômeno, ou melhor, uma sucessão de fenômenos produzidos pela lei de causa e efeito, ou carma. Cada um de nós é meramente uma combinação de características materiais e mentais; todo ser, ou coisa, é um aglomerado, um composto, em suma, um ajuntamento de coisas que permanecem separadas enquanto persiste no samsara ou roda da existência continuada, causada pelos desejos insaciáveis do homem, na sua sede de satisfação egoísta.

O supremo objetivo do Budismo está no oposto desta vida egocêntrica, está na vida una com o todo. O absoluto é uno, não pode haver um segundo ser para se unir a ele. O Budismo esclarece que, na iluminação, nada une a criatura ao criador; a iluminação surge quando, pela sabedoria, a idéia de um ego, essa ilusão de um eu, cai completamente por terra. O indivíduo vê a realidade e então, nesse momento, o absoluto, o eterno, a iluminação, o nome que se queira dar não importa, vem à existência neste indivíduo."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 156-157
"A verdadeira natureza da mente é incondicionada."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 218
"A espiritualidade é apenas a consciência da unidade com o todo."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 216
"O fato de não estarmos conscientes das atividades da mente é o que Buda designa como ignorância. Assim, ignorância é tudo o que escapa à nossa plena atenção ou vigilância. Somente através da prática da plena atenção, podemos compreender o que é  a mente e a sua natureza. No contemplar o surgir, desenvolver e desaparecer dos pensamentos tornamo-nos conscientes deles e, vendo-os como são, sua influência dominadora sobre nós torna-se cada vez mais fraca, até nos libertarmos, aos poucos, dos grilhões que nos prendem à roda da existência contínua."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 223
"Tudo o que aparece, desaparece; firmai-vos na plena atenção."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 227
"O intelecto habitualmente separa o fato do conceito. O Zen Budismo procura conseguir um estado mental acima da mente perceptiva; quanto mais amplo for o uso de palavras, tanto maior será a tendência para a confusão."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 241
"O empenho do Budismo consiste em eliminar essa mente perceptiva contaminada e condicionada, com todo o seu acervo de recordações, sensações, e conquistar a plena liberdade."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 250
"No decorrer do dia, quando executando uma determinada tarefa, ao percebermos que a mente se desvia do objeto da nossa ocupação, imediatamente observemos este fato e, logo a seguir, retornemos à atenção, à tarefa que estávamos executando.

Mas o certo é que a mente deveria permanecer tranquila e passar a funcionar eficientemente apenas quando solicitada, lembrando-nos e orientando-nos em nossos afazeres, resolvendo nossos problemas e dificuldades. A mente pode ser comparada a um arquivo, que deveria ser utilizado somente quando solicitado. Apenas uma pequena parte dos pensamentos que ocupam nossa mente é funcional. A maior parte do que pensamos é inútil."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 109
"Toda vez que surgir na mente qualquer estado de consciência, como saudade, sensualidade, ódio, etc., tão logo surja o primeiro pensamento, devemos observa-lo e rotula-lo; com esse rotular do pensamento, o fluxo será cortado. Este é um esforço para evitar que a mente vá a estados negativos de consciência.

Na vida cotidiana este esforço nos leva a desenvolver qualidades boas, como tolerância, paciência, compreensão. Pela falta de atenção, não temos consciência destes estados negativos e embarcamos facilmente neles."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 107


"O fluxo mental continua sem cessar, como a corrente elétrica que continua existindo, apesar de a lâmpada estar queimada e de a luz não se manifestar. Mas, instalada uma nova lâmpada, outra vez a corrente elétrica se manifesta, acendendo-a. É este fluxo dinâmico mental que se chama carma, vontade, sede, desejo. Estas forças potentes, esta vontade de viver mantêm a continuidade da vida. De tal modo este fluxo contínuo de consciência continua sem fim, enquanto perdura o desejo.

A mente é o fator que ativa a vida, e os corpos físicos dos seres vivos são somente o resultado material de forças mentais anteriores que foram geradas em vidas passadas.

A força invisível gerada pela mente, quando ela é liberta do corpo e projetada para além da morte, agarra-se aos elementos do mundo material e deles, pelo processo natural de geração, molda uma nova forma de vida.

A energia mental produzida no passado, em combinação com o processo biológico, forma um novo ser sensível. Buda refuta categoricamente o falso ponto de vista que quer perpetuar o eu e eternizá-lo. Há apenas continuidade de carma."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 60-62
"O pensamento, sob a forma de desejo e ânsia em todos os seus aspectos, é uma força criadora que perpetua a continuidade da matéria na qual participa o processo do renascimento.

O desejo tem por base a falsa idéia de um EU, que surge da ignorância que mantém nossa aparente personalidade. Todas as infelicidades, todos os conflitos do mundo, desde as pequenas discussões de família até as grandes guerras entre as nações, têm suas raízes nessa sede de desejo.

Segundo o Budismo, o ser é somente uma combinação de forças ou energias físicas e mentais em fluxo constante. O que chamamos de morte é somente a parada completa do funcionamento do corpo físico. Mas a vontade, o desejo, a sede de existir, de continuar, de vir-a-ser constituem a maior força existente que anima todas as vidas, todas as existências, o mundo inteiro. Essa força não se detém com a morte, continua manifestando-se sob outra forma, produzindo uma nova vida chamada renascimento.  Esse desejo se encontra no agregado das formações mentais, que é um dos cinco agregados que constituem um ser. Portanto, a causa, o germe, o início do aparecimento do sofrimento encontra-se na própria mente do indivíduo que sofre, ainda que a causa pareça vir do exterior."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 55-58
"Os cinco agregados (matéria, sensações, percepções, formações mentais e consciência), que chamamos um SER, um indivíduo ou EU, são apenas um rótulo que damos a esta combinação que é impermanente e em constante mudança. O EU é um composto instável em contínuo movimento e que a todo momento se modifica; o EU dura o tempo exato de uma combinação de elementos do plano psicofísico, pois, no instante seguinte, outra é a combinação existente. Por mais que analisemos o EU, sob qualquer aspecto que possamos considerá-lo, sempre vamos encontrar a impermanência, e em nenhuma parte um lugar para qualquer coisa permanente.


O que chamamos indivíduo, eu ou coisa, em suma, nada mais é que certo aspecto da corrente de causa  e efeito que com nossos sentidos percebemos, em dado momento do tempo."


Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 52
"A cessação da continuidade e do vir-a-ser é Nirvana.

Nirvana é o estado de permanente plena atenção, é o fim dos renascimentos.

O nirvana não pode ser descrito porque não há nada em nossa experiência mundana com o qual possa ser comparado, e nada que possa ser usado para fornecer uma analogia satisfatória."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 68, 69, 72
"O Budismo é uma filosofia de caráter essencialmente psicológico, uma maneira de viver, tendo em vista a correta compreensão, isto é, o reconhecimento da existência do sofrimento, a verdade da causa do sofrimento e o verdadeiro caminho que leva à cessação do sofrimento (nirvana), conhecido como Nobre Caminho Óctuplo - caminho da correta compreensão, caminho do meio."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 17
"O nirvana outra coisa não é a não ser a libertação absoluta de todos os fatores coercitivos que pesam sobre o homem no mundo que conhecemos."

Budismo: história e doutrina - p. 77
"No Budismo não há lugar para esforço. Seja comum, sem nada de especial. Coma a sua comida, libere os seus intestinos, verta a sua água e, quando estiver cansado, deite-se."

O zen e a experiência mística - p.79
"O indivíduo é uma abertura através da qual toda energia do universo se conscientiza de si mesma."

Reflexões budistas - p. 91
"A pessoa que contemplar uma estátua de Buda - mesmo quando não souber nada de sua doutrina - chegará à conclusão de que é a representação perfeita de um homem espiritualizado, de um homem que conservou sempre a base sólida da realidade sob os pés, porque aceitou e enobreceu a sua corporeidade sem, no entanto, ficar a ela apegado ou dela dependente, e que vive, assim, em paz consigo e com o mundo. Que serenidade interior e bem-aventurança se refletem em seu rosto, que equanimidade e que tranquilidade em cada membro de seu corpo, que silêncio profundo e que harmonia! Uma harmonia que contagia e penetra o observador. Aqui não há mais desejo, exigência, inquietude, incerteza, perseguição a assuntos externos ou dependência a qualquer coisa. Aqui está a mais elevada felicidade expressa em uma palavra: totalidade - perfeição."

Reflexões budistas - p. 85
"É a ação vigilante da meditação que permite ao homem libertar-se da influência da relatividade dos fatos e das coisas e penetrar na verdadeira natureza da existência, isto é, compreender que ela é impermanente, sem substância e, portanto, capaz de causar sofrimento àquele que, na sua ignorância, se apega às coisas, aos seres e à própria vida."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 86
"O Budismo ensina o homem a ser o seu próprio mestre, a libertar-se dos condicionamentos, dentre os quais principalmente os preconceitos, a não permanecer dependente da cultura ou análises intelectuais, como também a não se apegar a nenhum instante passado, nem a nada ainda não acontecido, a viver integralmente o presente e a reconhecer o mundo e a si próprio tais como são."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 18
"A finalidade do Budismo é reunir novamente o indivíduo à realidade que foi perdida de vista devido à nossa ignorância em buscar a felicidade, pela qual ansiamos, onde ela não é encontrada, nas sombras e ilusões da nossa própria mente."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 85
"When you find yourselves in good or bad circumstances, you neglect your true mind and surrender to the power of conditions."

The faith to doubt - p. 22
"A meditative attitude is eternally prepared to wait. Freed from any pretensions of knowing, nothing in particular is expected to happen."

The faith to doubt - p. 46
"Meditative questioning waits and listens in the simplicity of unknowing. Although quiet and freed from expectations and curiosity, it is alive with the tension of perplexity."

The faith to doubt - p. 49