"Há duas idéias psicologicamente enraizadas no indivíduo: a autoproteção e a autopreservação. Como autoproteção, o homem criou a imagem de um deus pessoal do qual ele depende como uma criança de seus pais, para sua própria proteção, salvaguarda e segurança. Quanto à autopreservação, o homem concebeu a idéia de uma alma imortal, permanente, que viverá eternamente. Perdido entre o temor e o desejo, o homem necessita dessas duas coisas para se assegurar e confortar.

A vida é um momento entre o passado e o futuro; é apenas um fenômeno, ou melhor, uma sucessão de fenômenos produzidos pela lei de causa e efeito, ou carma. Cada um de nós é meramente uma combinação de características materiais e mentais; todo ser, ou coisa, é um aglomerado, um composto, em suma, um ajuntamento de coisas que permanecem separadas enquanto persiste no samsara ou roda da existência continuada, causada pelos desejos insaciáveis do homem, na sua sede de satisfação egoísta.

O supremo objetivo do Budismo está no oposto desta vida egocêntrica, está na vida una com o todo. O absoluto é uno, não pode haver um segundo ser para se unir a ele. O Budismo esclarece que, na iluminação, nada une a criatura ao criador; a iluminação surge quando, pela sabedoria, a idéia de um ego, essa ilusão de um eu, cai completamente por terra. O indivíduo vê a realidade e então, nesse momento, o absoluto, o eterno, a iluminação, o nome que se queira dar não importa, vem à existência neste indivíduo."

Budismo: psicologia do autoconhecimento - p. 156-157